domingo, 9 de março de 2014

Fechem o FMI


Por Sheldon Richman


O diretor do Fundo Monetário Internacional Dominique Strauss-Kahn foi afastado após ter sido acusado de assédio sexual contra uma camareira de um hotel de Nova Iorque. Infelizmente, muitos membros da elite governamental do mundo estão prontos para assumir o seu posto. Quem deveria suceder Strauss-Kahn – um europeu ou alguém de um país em desenvolvimento? Se o critério é o bem-estar das pessoas comuns, a resposta é simples: ninguém deveria sucedê-lo. O FMI, além de outras agências como o Banco Mundial, deveriam ser abolidas. Elas não melhoram a vida da maioria das pessoas, mas sim impõem um “neoliberalismo” corporativista sob países em dificuldades e impedem o surgimento de livres mercados.


O FMI é o ponto central do Acordo de Bretton Woods, proposto por Keynes, designado para coordenar os bancos centrais ao redor do globo e permitir aos planejadores econômicos dos Estados Unidos e seus aliados, moldarem a economia mundial. Quando o “padrão-dólar” terminou em 1971, o FMI assumiu uma nova missão: ser  emergência de governos devassos e endividados que não conseguiam pagar seus empréstimos junto aos bancos ocidentais ou importar o suficiente para manter as exportações dos países ocidentais a pleno vapor.


O governo dos Estados Unidos força os contribuintes norte-americanos a darem cerca de 17% dos US$ 340 bilhões de dólares que compõem o fundo secreto do FMI. O Secretário do Tesouro, Timothy Geithner, é o representante dos Estados Unidos na Assembleia de Governadores, tendo o presidente do FED, Ben Bernanke, como suplente. Deveria ser o suficiente para imaginar que os planos do FMI não objetivam mercados livres. A agência afirma ajudar países em dificuldades monitorando a economia mundial, fornecendo pareceres técnicos e emprestando dinheiro para governos que não podem pagar suas dívidas. Seu histórico é deprimente.


O FMI tem um resultado pífio em prever crises. Mas por que se espera que burocratas vivendo do dinheiro dos pagadores de impostos sem nenhum investimento pessoal em risco detectem problemas econômicos? Os burocratas não podem saber o que necessitam saber, dado que o conhecimento crucial não está em dados tão acessíveis.


A promessa de “assistência técnica” é uma piada porque as economias não são máquinas, mas sim redes de atividade humana. O conselho do FMI – aumentar impostos – é frequentemente contraproducente, mas como leva o rótulo de “livre mercado”, cria o ressentimento do público contra reformas de livre mercado reais.


Mesmo quando fornece um conselho adequado, digamos, abolir os controles de preços sobre os alimentos, o fracasso governamental no processo de remoção de outras interferências no mercado – licenciamento, concessões, patentes e assim por diante – podem impor dificuldades a pessoas já sofridas. O “livre mercado”, então, é declarado culpado.  As revoltas sociais relacionadas a alimentação ocorreram alguns anos atrás no Egito sob tais circunstâncias, e, como resultado, as reformas de mercado são amplamente desacreditadas por lá.


Os empréstimos do FMI parecem altruístas, contudo, na verdade, eles salvam os governantes das consequências de seus esquemas exploradores – poupando-os da necessidade de mudanças radicais, tais como a reforma agrária e a liberalização da atividade bancária – assim como seus credores – tipicamente os bancos de Wall Street. Os agricultores norte-americanos e outros exportadores tem feito lobby em prol de maiores contribuições dos Estados Unidos ao FMI na crença de que mais empréstimos para países em dificuldade significarão mais vendas ao exterior. Se os empréstimos são pagos, o dinheiro advém do suor dos pobres pagadores de impostos dos países em desenvolvimento.


O FMI enfatiza que os empréstimos sempre vêm com “condições”, mas isso não adianta muito. As violações mais profundas na liberdade individual e nos princípios de mercado não são consideradas. Mercados reais requerem liberdade individual, sistema bancário livre, fim das barreiras legais ao empreendedorismo, e direitos de propriedade para os cidadãos comuns. Os mercados não são livres quando grandes áreas de terras são controladas por uma elite feudal, deixando à maioria das pessoas pouca escolha a não ser aceitar o que estiver disponível. A sua aceitação pode representar “a melhor opção disponível”, mas se o seu conjunto de opções tem sido artificialmente restrito, não quer dizer muita coisa.


Por décadas, o FMI tem fomentado a dependência de longo prazo, o endividamento perpétuo, o risco moral e a politização, enquanto maculam as reformas de livre mercado e comunicam mudança progressista revolucionária. A solução não é o FMI impor o livre mercado, mesmo se pudesse. Isso sugeriria imperialismo e, como diz o antigo economista do Banco Mundial, William Easterly, teria “ecos paternalistas do Fardo do Homem Branco”.


O FMI deveria ser eliminado e as pessoas sofrendo debaixo da cleptocracia livres para descobrir por si próprias os requisitos necessários para melhorar suas próprias vidas. Quanto mais “ajuda” do Ocidente elas podem aguentar?


Traduzido por Matheus Pacini e revisado por Ivanildo Terceiro e Rodrigo Viana. Para ler o artigo original clique aqui.

Sheldon Richman é comentarista político, escritor, acadêmico, ex-editor da revista The Freeman, atual vice presidente da Future of Freedom Foundation e editor da Future of Freedom.
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