sexta-feira, 25 de abril de 2014

Mutualismo e anarco-capitalismo: diferenças



Por Mutualist Alliance Blog
Eu percebo que a última postagem era mais sobre discurso e responder ataques ao invés de uma conta real das diferenças legítimas entre mutualistas e anarco-capitalistas. Eu vou tentar fazer isso aqui, não como uma forma de iniciar uma luta, mas para educar.

Teorias do valor

Muitos mutualistas subscrevem à Teoria do Valor-trabalho, e foram entre os primeiros a perceberem suas conclusões socialistas. Isso é um pouco controverso na economia moderna, uma quantidade considerável de pessoas (libertários de direita em particular) considerá-la como algum tipo de pseudo-ciência, embora haja sérios debates sobre isso. Os anarco-capitalistas geralmente se apoiam no trabalho de Eugene Böhm-Bawerk para por um fim nas teorias do trabalho ricardianas e marxistas, e argumentam que a teoria do valor subjetivo está correta. Kevin Carson, em seu livro “Estudos na Economia Política Mutualista”, argumenta que Böhm-Bawerk criou um espantalho de Ricardo e de outros economistas clássicos, e tenta sintetizar a teoria do valor trabalho mutualista[1] com a praxeologia austríaca.

Robert P. Murphy e Kevin Carson tiveram um debate amigável e interessante sobre isso que você pode ler aqui e aqui.

O apoio da TVT entre mutualistas os levam se oporem ao lucro, juro e arrendamento. Anarco-capitalistas não tem quaisquer problemas com isso. Debates interessantes podem ser tido sobre isso, mas ambos tendem a concordar de que os problemas são menos predominantes em uma economia livre.

Direitos de propriedade

É justo dizer que geralmente anarco-capitalistas são lockeanos. Anarco-capitalistas, como Rothbard, apoiavam algumas formas de direitos de Propriedade Intelectual, mas anarco-capitalistas modernos normalmente acham isso ilegítimo. Mutualistas tendem a subscrever a doutrina de Ingalls-Tucker de ocupação e uso, mas Lysander Spooner, por exemplo, apoiava o mesmo tipo de doutrina de lei natural que é comum entre rothbardianos, e até mesmo apoiava a Propriedade Intelectual. Thomas Hodgskin, para citar outro exemplo, defendia o holding privado de terra, contra Herbert Spencer de todas as pessoas. Outras pessoas, como Ezra Heywood, sugeria que:

"...não pode haver nenhum mercado verdadeiramente livre enquanto propriedade em materiais crus e monopólio de meios de troca existir."

Kevin Carson, no entanto, subscreve a doutrina anterior mencionada de Ingalls-Tucker, e uma vez que ele é a principal fonte de material mutualista atualmente, muitas pessoas que se denominam mutualistas subscrevem a ele. Roderick T. Long (que não se denomina capitalista, embora é um rothbardiano) debateu com ele sobre isso[2]. Mas o que mutualistas de hoje acham interessante não é quem está filosoficamente certo ou errado, mas a carência geral de compreensão de a partir de onde a propriedade capitalista vem, que isso não é limitado apenas a anarco-capitalistas, mas a maioria das pessoas (embora alguns marxistas reconheçam isso). Mutualistas argumentam que isso levou enormes força e intervenção governamental na economia a fim de criar o que é geralmente conhecido como “propriedade capitalista”, e que isso se isso não tivesse ocorrido, a economia teria se desenvolvido mais em direção do auto-gestão de trabalhadores. Isso não é tanto um argumento contra os direitos de propriedade anarco-capitalistas, mas um argumento contra a “liberdade orgânica” que alguns alegam que o capitalismo é. Alguns rothbardianos tem aceitado isso e tem moldado a si mesmos “anti-capitalistas” como um resultado.

Semântica

É claro que nós, às vezes, sustentamos as mesmas ideias mas as expressamos com semânticas diferentes. Capitalismo, para a maioria dos anarco-capitalistas, é uma economia com zero de intervenção governamental. Socialismo, para a maioria dos mutualistas, é uma economia com zero de intervenção governamental. Capitalismo, para a maioria dos mutualistas, é intervenção governamental sistemática, destruindo a atividade de emprego autônomo para criar uma classe de capitalistas arrendadores. Socialismo, para a maioria dos anarco-capitalistas, é intervenção governamental sistemática no mercado para redistribuir riqueza e confiscar propriedade privada.

Ora, pode haver uma parte certa ou errada a isso? Pessoalmente eu penso que não. Mutualistas usam uma definição de capitalismo e socialismo que remontam aos anarquistas do século dezenove, enquanto anarco-capitalistas usam uma definição de capitalismo e socialismo mais ligada a Mises e Rand. Anarco-capitalistas definitivamente tem aceitado o uso mais moderno e comumente do termo, enquanto mutualistas voltam a definição no seu ponto principal para ilustrar que a principal função do governo está em manter a regra capitalista.

Dinheiro

Anarco-capitalistas são geralmente pessoas muito otimistas pelo ouro, muito embora alguns tem estado entusiasmado por Bitcoins. Mas de acordo com eles, o melhor dinheiro é lastreado. Mutualistas argumentam que, ao contrário, uma forma de crédito mútuo, que é criado através de um “banco-mútuo” de juro livre (efetivamente uma economia do dom com uma unidade de conta). Rothbard argumentava que isso era algum tipo de “moeda fiduciária”, ao qual Kevin Carson respondeu:

"Greene e Tucker não propunham inflacionar a oferta de moeda, mas ao contrário, eliminar o preço de monopólio do crédito feito possivelmente pelas barreiras de entrada estatais: licenciamento de bancos e grandes requerimentos de capitalização para instituições comprometidas em fornecer somente empréstimos assegurados."

Mutualistas modernos tendem a ser muito interessados em economias de permuta, uniões de créditos e outras formas de moeda circulante local.

Objetivos e visões

É injusto dizer que anarco-capitalistas querem tudo a ser um supermercado, mas a atitude geral entre os anarco-capitalistas é aquela em favor de uma sociedade centralizada em torno de empresários e comércio. A maioria deles não tem uma visão real, conquanto que seja voluntário e não infrinja nos direitos de propriedade. Eles são favoráveis aos meios de produção sendo mantidos privadamente. Suas formas favorecidas de chegar lá parecem ser tanto tornar o governo o mais libertário quanto possível, tornando mais fácil para as pessoas se secederem ou revoltarem através de “tribunais libertários revolucionários”, como Walter Block sugere, ou a estratégia libertária de esquerda do “agorismo”, significando “contra-economia”.

No entanto, mutualistas não são fetichistas de mercado na mesma extensão. Nossa visão favorecida é melhor descrita como um comunitarismo, onde a maioria dos bens é produzida para a economia local e baseada nas necessidades locais por produtores autônomos e empresas possuídas por trabalhadores. As diferentes comunidades se entreligariam sob os princípios do federalismo livre para se comunicar efetivamente sobre ampla área geográfica. Desde Proudhon, mutualistas tem geralmente sido gradualistas quando se trata de revoluções, mas não reformistas. Eles apoiam as tomadas de controle sindicalistas de empresas através de greves gerais, estratégias de dualidade de poder para criar alternativas às instituições legais e também concordam com os agoristas de que precisamos comercializar fora da relação ao dinheiro.


Nota do tradutor:

[1] No original “and attempts to synthesize the Marxist labor theory of value with Austrian praxeology.” Na verdade o autor cometeu um equívoco, pois Carson renega a teoria marxista e se apoia na teoria mutualista do valor-trabalho. Para a melhor compreensão do leitor, foi traduzido de forma corrigida.
[2] Esse debate pode ser conferido aqui e aqui.

Traduzido por Rodrigo Viana. Para ler o artigo original clique aqui.